No post anterior,{" "} a vida normal com uma Doença Crônica , eu descrevi como a vida de uma pessoa com doença crônica pode ser e que as melhores coisas que consegui foi depois de ser diagnosticado com Crohn; faculdade, trabalho, viagens. Hoje eu gostaria de contar um pouco sobre tudo isso.
Essa semana eu fiz 25 anos, uma bela data para pensar em tudo o que consegui e o que estou fazendo pelos próximos 25, 50, 75 anos, assim espero. Uma das coisas que ganhei sem querer foi uma doença crônica, rara, sem cura, grave, chamada Doença de Crohn. Não que isso tenha me impedido de alguma coisa, de forma nenhuma; até me motivou a ir atrás do que eu sonhava, porque ninguém faria isso por mim. E eram planos comuns como me formar na faculdade, conseguir um bom trabalho, ir morar sozinho, conhecer outros lugares, etc. E meus planos continuaram os mesmos depois do diagnostico, apenas com mais um detalhe; ter saúde.
Eu tinha 23 anos e já estava na faculdade. O começo é sempre complicado, tive que conciliar meus exames e consultas com minhas aulas, os sintomas incomodavam, principalmente com o nervosismo das apresentações, mas eu não desisti e me formei em Gestão em Tecnologia da Informação pouco tempo depois. Mas minha ficha do que eu havia conseguido apenas caiu no dia da colação de grau. Eu estava nervoso, ter que subir no palco, fazer o juramento, pegar o canudo, diante de uma plateia enorme. Mas foi incrível, acredito que mais pra mim do que qualquer colega, porque eu tive que suportar a doença de Crohn, eles não.
Eu trabalhava com suporte técnico há 4 anos pra pagar a faculdade mas não amava o que fazia pra viver disso. Sendo assim, fiz um curso de web nas férias e logo após me formar na faculdade pedi demissão. Foi em meio a crise econômica, muita gente sendo demitida mas eu havia me preparado. Minha única preocupação foi que perdi o plano de saúde e passava numa clínica particular para tratar minha DII. Depois de um tempo, comecei a trabalhar como desenvolvedor web, onde estou há 8 meses, fazendo o que gosto todo dia. Ainda estou sem plano de saúde, mas comecei a passar com o Dr. Wilton no Hospital Padre Bento em Guarulhos essa semana e estou muito feliz por isso. Farei acompanhamento com ele, além de psicólogo, nutricionista e assistente social, tudo pelo SUS. Veja bem, se eu não perdesse meu plano de saúde, isso não teria acontecido. (Isso é assunto pra outro post.)
Já mais tranquilo, com trabalho, resolvi me divertir um pouco mais e viajar. Isso pode ser um assunto assustador pra quem tem DII; novos lugares, outras comidas, controlar a ansiedade, não saber onde terá um banheiro próximo, apenas a preocupação com essas coisas podem te levar a uma crise facilmente. Mas encarei esses medos e fui pra Porto Alegre – RS, Paraty – RJ, e duas vezes para o Rio de Janeiro. E foi as melhores experiências que eu tive até hoje. Detalhe, uma delas foi pra ver o show do Coldplay no Maracanã, outra coisa que me preocupou no início, passar 15h direto no estádio, mas tomei coragem, e meu buscopan, e aproveitei o show igualmente como outras 66 mil pessoas.
Eu ainda morava com meu pai, levava 2h no mínimo pra ir e voltar pro trabalho, precisava dar um jeito e ir morar num lugar melhor. Conversei com minha namorada, fizemos algumas contas, procuramos e alugamos um apartamento na zona norte de SP, o que facilitou muita coisa e até a minha DII está mais calma, porque estou me alimentando e dormindo melhor. É estranho agora, minhas preocupações e felicidades são diferentes como dono de casa, fazer a janta, limpar minha casa, essas coisas simples me trás um sentimento muito agradável. Ou estou ficando velho mesmo.
Enfim, o que gostaria de dizer é que já vi pessoas com DII tristes por passarem no vestibular de uma faculdade e ter que enfrentar uma nova rotina. Assim como já vi pessoas sendo demitidas por estarem doentes, em crise, mas me permita contar um segredo; muitas empresas pedem para os recrutadores não contratarem pessoas a cima do peso, negras ou qualquer outro fator irrelevante pessoal. Isso, além de ridículo, mostra que existem vagas que suas qualificações podem não se encaixar e existem empresas que não se encaixam pra você. Se não te aceitam com a DII, você merece um lugar de trabalho melhor.
Crohn e retocolite são doenças autoimunes, não castigo. Eu sei como é difícil conviver com uma crise, mas também acredito num plano maior que ainda não estamos prontos para entender. Se temos uma DII ou qualquer doença crônica, é por algum motivo; seja para seguir nossos sonhos, cuidarmos melhor da nossa saúde ou criar um blog e ajudar os outros portadores a ter uma vida melhor, se sinta a vontade em dar o significado positivo que quiser. Mas não deixe de viver a sua vida, seguir seus planos, deixar que o medo te impeça de ter histórias para contar. O complicado tratamento vem acompanhado de pessoas incríveis que conhecemos, lições que aprendemos, valores, que não teríamos se não estivéssemos doentes.